segunda-feira, 25 de abril de 2011

Aminoácidos de Cadeia Ramificada (BCAAS) e Exercícios

Há muito tempo, os aminoácidos de cadeia ramificada têm sido utilizados na nutrição clinica no tratamento de uma série de patologias. Hoje, muito se discute sobre os possíveis efeitos ergogênicos destes na atividade física, bem como seus diferentes mecanismos de ação fisiológica.

Os aminoácidos de cadeia ramificada, popularmente conhecidos como BCAAs, sigla derivada de sua designação em inglês Branched Chain Amino Acids, compreendem 3 aminoácidos essenciais: leucina, isoleucina e valina, encontrados, sobretudo em fontes protéicas de origem animal (HENDLER & RORVIK, 2001). Apesar destes aminoácidos não serem considerados a principal fonte de energia para o processo de contração muscular, sabe-se que estes atuam como importante fonte de energia muscular durante o estresse metabólico. Neste contexto, estudos têm mostrado que nestas situações a administração de BCAAs, particularmente a leucina, poderia estimular a síntese protéica e diminuir o catabolismo protéico muscular (BLOMSTRAND & SALTIN, 2001). Além dos possíveis efeitos ergogênicos no metabolismo protéico muscular, outros têm sido sugeridos: retardar a ocorrência de fadiga central (NEWSHOLME & BLOMSTRAND, 2006), aumentar o rendimento esportivo (MADSEN et al 1996), poupar os estoques de glicogênio muscular e aumentar os níveis plasmáticos de glutamina após o exercício intenso (BLOMSTRAND & SALTIN, 2001).

BCAA e síntese protéica muscular
Estudos com suplementação de aminoácidos de cadeia ramificada demonstram que essa estratégia nutricional pode ser efetiva na promoção do anabolismo protéico muscular e diminuição da lesão muscular pós-exercício. No processo de síntese protéica muscular, destaca-se, entre os aminoácidos de cadeia ramificada, a leucina, que induz a estimulação da fosforilação de proteínas envolvidas no processo de iniciação da tradução do RNA mensageiro, o que desse modo, contribui para a estimulação da síntese protéica (ROGERO & TIRAPEGUI, 2007).
Cabe ressaltar que a administração oral de leucina produz um ligeiro e transitório aumento na concentração de insulina plasmática, fato este que também estimula a síntese protéica (ROGERO & TIRAPEGUI, 2007).

BCAA e fadiga central
A fadiga decorrente do exercício físico é um fenômeno complexo cujas causas parecem depender do tipo, intensidade e duração do exercício (FITTS, 1994). Para efeito de discussão, a fadiga pode ser definida como um conjunto de manifestações produzidas por trabalho ou exercício prolongado, que tem como conseqüência redução ou prejuízo na capacidade funcional de manter ou continuar o rendimento esperado (ROSSI & TIRAPEGUI, 2000). Na fadiga central, os mecanismos relacionados à ocorrência seriam a hipoglicemia e a alteração plasmática na concentração de aminoácidos de cadeia ramificada e triptofano (NEWSHOLME & BLOMSTRAND, 2006).
O triptofano é um aminoácido essencial, tanto para homens como animais. Entre suas diversas funções está a de precursor do neurotransmissor serotonina, o que influencia no sono, comportamento, fadiga, ingestão alimentar, entre outros. O triptofano pode ser encontrado na corrente sangüínea na forma livre (10%) ou ligado a proteínas transportadoras (90%). Em exercícios de longa duração, o organismo passa a utilizar os lipídeos como fonte de energia, fazendo assim com que o triptofano possa circular em grande quantidade na forma livre pela corrente sangüínea. Assim, quando a existe grande quantidade circulante deste aminoácido, possivelmente ocorre uma maior síntese do neurotransmissor serotonina, um dos grandes responsáveis pela ocorrência da fadiga central. A suplementação de BCAAs tem sido sugerida na hipótese de competir com o triptofano livre na corrente sangüínea, diminuindo assim a síntese de serotonina e consequentemente prevenindo a ocorrência de fadiga central (ROSSI & TIRAPEGUI, 2004).

Outras evidências
Não há evidencias de que a suplementação com BCAAs exerça efeito significativo sobre o rendimento físico e metabolismo de carboidratos, uma vez que os resultados dos estudos são conflitantes. Em contraste, foi verificado que a suplementação com BCAAs promove aumento significativo nos níveis plasmáticos de glutamina no período de recuperação (pós-exercício), uma vez que servem de substrato para a síntese deste aminoácido (BLOMSTRAND et al, 1995). Parece não haver necessidade para a ingestão de BCAAs, antes e durante o exercício, como estratégia para melhorar o desempenho esportivo. Contudo, a ingestão de aminoácidos, em particular de BCAAs, pode trazer benefícios de outra natureza, tais como a redução do catabolismo protéico durante o esforço e/ou durante a recuperação.
O uso de BCAAs é considerado ético. Os principais efeitos adversos relatados com o uso do suplemento, especificamente com altas doses, são: desconforto gastrintestinal, como diarréia, além de comprometer a absorção de outros aminoácidos (WILLIAMS, 1998). 

Referências Bibliográficas
BLOMSTRAND, E. et al. Effect of branched-chain amino acid and carbohydrate supplementation on the exercise-induced change in plasma and muscle concentration of amino acids in human subjects. Acta Physiologica Scandinavica, v.153, p.87-96, 1995.
BLOMSTRAND, E.; SALTIN, B. BCAA intake affects protein metabolism in muscle after but not during exercise in humans. American Journal of Physiology – Endocrinology and Metabolism, v.281, n.2, p.E365-E374, 2001.
FITTS, R.H. . Physiological Reviews, v.74, n.1, p.49-94, 1994.
HENDLER, S.S.; RORVIK, D. PDR for nutritional supplements. Medical Economics, 2001.
MADSEN, K. et al. Effects of glucose, glucose plus branched-chain amino acids, or placebo on bike performance over 100 km. Journal of Applied Physiology, v.81, n.6, p.2644-2650, 1996.
NEWSHOLME, E.A.; BLOMSTRAND, E. Branched-chain amino acids and central fatigue. Journal of Nutrition, v.136, n.1, p.274S-6S, 2006.
ROGERO, M.M.; TIRAPEGUI, J.O. Aminoácidos de Cadeia Ramificada, Balanço Protéico Muscular e Exercício Físico. Nutrição em Pauta, v.83, p.28-34, 2007.
ROSSI, L.; TIRAPEGUI, J.O. Aminoácidos: bases atuais para sua suplementação na atividade física. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas, v.36, n.1, p.37-51, 2000.
ROSSI, L.; TIRAPEGUI, J.O. Implicações do sistema serotoninérgico no exercício físico. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia e Metabologia, v.48, n.2, p.227-233, 2004.
WILLIAMS, M.H. The ergogenic edge: pushing the limits of sports performance. Human Kinetics, 1998.

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